segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Posted by DIRETO DA REDAÇÃO On 06:05
Copaíba tem efeito neuroprotetor 

por Paulo Henrique Gadelha / Junho e Julho 2012
foto Bianca d’Aquino




Adriano Santos no Laboratório de Neuroproteção e  Neurorregneração Experimental do ICB




Árvore de Copaíba



De acordo com o professor Walace Gomes Leal, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal do Pará (UFPA), a Medicina Popular defende que um dos benefícios do óleo da copaíba é o efeito anti-inflamatório para doenças da pele e de outros tecidos. A partir disso, surgiu o questionamento: será que o composto natural poderia ter algum efeito no sistema nervoso central?

O questionamento motivou o biólogo Adriano Guimarães Santos a produzir a Dissertação Efeitos anti-inflamatórios e neuroprotetores do óleo-resina de Copaifera reticulata Ducke após lesão excitotóxica do córtex motor de ratos adultos, orientada pelo professor Walace Leal. A pesquisa, defendida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Neurociências e Biologia Celular do ICB, foi realizada no Laboratório de Neuroproteção e Neurorregeneração Experimental e financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (Fapespa).

"Nenhum outro laboratório havia investigado se o tratamento com o óleo de copaíba tinha algum efeito anti-inflamatório em um modelo experimental de uma doença do sistema nervoso central. Então, consideramos pertinente realizar esse estudo na UFPA", esclarece o professor.

Neste modelo experimental, fora injetada uma neurotoxina (substância tóxica que pode lesar o sistema nervoso) no cérebro de ratos. Esse procedimento causa uma lesão semelhante à provocada pelo
Acidente Vascular Cerebral (AVC), "nós anestesiamos esses animais e introduzimos a neurotoxina. Então, induziu-se a uma lesão neural aguda e à perda tecidual devido à substância. Essa ação gerou, ainda, um déficit motor, o que simula uma doença humana como o AVC", explica o professor.

Resultado será referência para tratamento em humanos

Como parte da metodologia, foram utilizados mais dois grupos de ratos, tratados de forma diferente. Um grupo recebeu uma solução salina estéril (soro fisiológico), contendo sódio e água. Esse composto, de acordo com Walace Leal, era um placebo, substância administrada como controle do experimento e com efeito inócuo.

"Já o outro grupo foi tratado com óleo de copaíba, diluído em uma concentração que era considerada adequada", destaca o docente. Após os experimentos, os pesquisadores constataram que, "no grupo de animais tratados com copaíba, houve uma diminuição da inflamação no sistema nervoso central e uma melhor proteção desse sistema contra lesão, ou seja, neuroproteção. Esses foram os dois principais resultados encontrados", revela Walace Leal.

A pesquisa contou com a colaboração de dois engenheiros químicos da UFPA, Raul Carvalho e Lucinewton Silva de Moura, os quais realizaram um estudo da composição química do composto natural. Osmar Lameira, agrônomo e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), também contribuiu fornecendo o óleo da copaíba. Segundo Walace Leal, utilizar material de uma árvore conhecida é condição imprescindível para esse tipo de pesquisa.

Segundo o orientador da Dissertação, a simulação feita com ratos e os resultados encontrados com os experimentos podem, posteriormente, servir como referência para o tratamento de doenças do sistema nervoso em humanos. "Evolutivamente, os mecanismos que causam lesão em ratos são muito parecidos com os de humanos. E para se apreender o que pode acontecer em doenças de humanos, é necessário, primeiramente, fazer experimentos em animais. Um rato com AVC, por exemplo, bem como um humano que sofre com essa doença apresentam problema motor, lesão e inflamação no cérebro. Nota-se, portanto, que as consequências lesivas são as mesmas", considera.

Próximo passo é isolar componentes ativos do óleo

Contudo, para aplicar o estudo em seres humanos, é indispensável a realização de mais pesquisas sobre a aplicabilidade do extrato da copaíba. Depois dos experimentos em ratos, a investigação seria feita em primatas. Antes de se chegar aos humanos, é necessário descobrir quais os princípios ativos responsáveis pelos efeitos anti-inflamatório e neuroprotetor do óleo de copaíba.
Segundo Walace Leal, atualmente, nenhum anti-inflamatório é usado para diminuir a lesão de uma doença do sistema nervoso. Então, se o estudo com a copaíba realmente funcionar em humanos, uma substância derivada do óleo dessa árvore pode ser utilizada para minimizar a inflamação.

"Assim, talvez tenhamos descoberto um composto natural, da Amazônia, que tenha um efeito anti-inflamatório para doenças do sistema nervoso central. Isso seria uma grande conquista para a sociedade. Até o momento, quando uma pessoa que sofreu um AVC chega ao hospital, pouco se pode fazer. Então, esses pacientes poderiam receber um derivado da copaíba que atenuasse a inflamação e protegesse o cérebro. Seria um remédio anti-inflamatório com efeito neuroprotetor", defende o professor.

O próximo passo da pesquisa será, justamente, a busca pelo isolamento do princípio (ou princípios) ativo(-s) do óleo da copaíba. Com essa possível delimitação, o tratamento será feito com os componentes ativos já isolados. O procedimento vai se dar, primeiramente, com ratos e, depois, com primatas. Com a descoberta desses princípios ativos, "seria possível apontar, precisamente, quais substâncias do óleo de copaíba promovem o efeito anti-inflamatório e a neuroproteção, as quais, futuramente, poderão ser utilizadas como medicamento para o tratamento de seres humanos", finaliza Walace Leal.


Fonte: http://www.ufpa.br/beiradorio/novo/index.php/2012/137-edicao-105--junho-e-julho/1357-copaiba-tem-efeito-neuroprotetor-

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