terça-feira, 23 de abril de 2013

Posted by DIRETO DA REDAÇÃO On 08:00
Priorizar as categorias de base é o melhor investimento, e com ótimo retorno financeiro para um clube

 
Por Matheus Albino


Os jovens atletas do futebol pernambucano estão vivendo uma ótima fase da economia do País que está refletindo na situação financeira dos times. Aqui em Pernambuco esse quadro ainda não foi o suficiente para turbinar e aquecer a economia dos clubes, mas pelo menos vem criando boas expectativas nas equipes e nos jogadores.

Em outras épocas não era possível pagar um salário e nem assinar um contrato com atletas da base. "O pré-contrato de hoje antes era chamado de contrato de gaveta, regularizado na federação, antes eram só as passagens pra ir treinar”, contou Ramón, ex-atacante do Santa Cruz e da Seleção Brasileira de Futebol.


Agora os atletas das categorias de base recebem ajuda financeira, mas só podem assinar contrato a partir dos 16 anos, antes são feitos contratos de formação.


Alguns atletas afirmam que os clubes nem sempre pagam essa ajuda no prazo estabelecido. Marlon, ex- volante do Sete de Setembro, contou que um atraso de salário causava um prejuízo ainda maior, “No Sete de Setembro o salário atrasava e as viagens eram muito longas e cansativas, às vezes ia aos treinos sem tomar café da manhã, mas é assim mesmo e quem quer chegar longe tem que passar por dificuldades”, disse Marlon.


A melhor categoria de base de Pernambuco é o Naútico


O futebol pernambucano ainda está longe de se igualar aos do Sul e Sudeste do Brasil. Notória é a evolução das categorias de base em termos de infraestrutura e filosofia de trabalho. O Clube Náutico Capibaribe tem o Centro de Treinamento da Guabiraba (CT), no Recife, considerado o melhor de Pernambuco. “Passei pelo Santa Cruz e pelo Naútico e hoje estou no Sport, mas sem dúvidas nenhuma a melhor base é a do Náutico em termos de estrutura e alojamento para os atletas”, afirmou Juninho, atleta da base do Sport.


Para os mais experientes o Náutico tem a melhor categoria de base porque investiu na sua equipe. Ramón afirmou que o clube alvirrubro foi o primeiro do estado a investir forte na base, construindo um CT de alto padrão para o clube, mas que no futuro dará retornos financeiros. 

Um exemplo é o jovem Douglas Santos, recém convocado para seleção brasileira e que já tinha disputado o sul-americano sub-20, este ano, na Argentina. Douglas já estendeu o seu contrato com o clube e a multa rescisória ultrapassa os 20 milhões de reais. “Ele estava bem aqui no Náutico e mereceu ser convocado, curiosamente o outro atleta da posição que foi ao sul-americano também jogava em um time do nordeste, o Mansur, que é jogador do Vitória da Bahia, algo difícil de acontecer na seleção brasileira. Uma experiência na seleção é de fundamental importância na evolução do atleta”, afirmou Sérgio China, técnico dos juniores do Naútico.


Os conselhos de quem já viveu essa fase de categorias de base


Ramón, atual presidente do Sindicato dos Jogadores de Futebol de Pernambuco, é um dos jogadores mais lembrados do futebol pernambucano. Artilheiro do Brasileiro de 1973 pelo Santa Cruz o ex-atacante acredita que os jovens agora tem mais chances de se tornar profissionais. “Acredito que hoje está mais fácil pra ser um jogador. Na minha época não tinha Centro de Treinamento, Seleção sub-17, Copa do Brasil e Brasileiro sub-20, e quem quisesse chegar a seleção tinha que ralar muito. Hoje os garotos treinam em CT’s, chegam a seleção principal porque passaram pelas seleções de base, então está mais fácil”, declarou.

Outro nome  do futebol pernambucano é Sérgio China, atual técnico dos juniores do Náutico. Ele falou que os campeonatos nacionais ajudam muito na formação dos atletas. “O Náutico hoje está na primeira divisão e isso tem um ponto positivo na base, pois assim podemos disputar o brasileiro sub-20, somente com times da primeira divisão. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) paga as despesas no local como a hospedagem. O translado quem arca são os clubes, mas na Copa do Brasil sub-20 a CBF pagou tudo às equipes que estavam inscritas na competição ”, afirmou China.


O jogo sujo dos empresários e a guerra contra os clubes de futebol


A geração do século 21 vem sendo marcada por transformações negativas e positivas no mundo do futebol. Para os mais experientes alguns desses jovens de hoje estão sendo privilegiados por empresários que só pensam no dinheiro e não em uma carreira bem sucedida para os seus atletas. “Hoje, os empresários colocam garotos que não tem tanta qualidade nos melhores clubes, isso atrapalha a qualidade da base. Sou a favor do procurador dos atletas, espécie de cargo que ajuda na assinatura de contrato, propostas e cuida da carreira do jogador”, disse Ramón.


É uma guerra entre empresários x clubes que começa antes mesmo da profissionalização dos atletas. Conforme o Decreto nº 2.574/89, art. 47, inciso 3º, é vedada aos menores, até a idade de 16 anos, exercerem a prática esportiva profissional. A profissionalização do jogador pelo clube é facultativa entre os 16 e os 18 anos, mas se torna obrigatória a partir dos 18 anos de idade. 

Outra jogada suja no futebol é a dos que aparecem prometendo a eles uma carreira de grande sucesso e de certeza de sonhos realizados, para os que caem nessas falsas promessas ficam as dúvidas se a história terminará com um final feliz. Rodrigo Thomaz, de 18 anos, é a prova viva desse jogo. Quando atuava no Náutico, afirmou que recebeu uma proposta tentadora de um empresário para se transferir à Espanha e se profissionalizar por lá. “Depois que joguei um campeonato na Bahia, fui para Espanha onde passei 2 meses na Catalunha treinando no Barcelona, então fui para o Espanhol e joguei por mais 1 ano e meio. Decidir voltar ao Brasil por questões pessoais, e hoje estou no América, disputando o Pernambucano na categoria Junior”.


Nem só de promessas falsas a jogadores vivem os empresários, há aqueles mais audaciosos que chegam a clubes de menor expressão para prometerem o impossível e iludir os mais experientes, foi o caso do técnico do Paulista Futebol Clube, da cidade de Paulista, na região metropolitana do Recife.
“Sou técnico do Paulista Futebol Clube, vivo escutando promessas de empresários e políticos que se comprometem a ajudar o clube, mas só aparecem em épocas de eleições”, palavras de Puan, técnico do Paulista, clube por onde passaram jogadores como Cleber Santana, Branquinho ex-Santa Cruz e Erico Junior, o Pelezinho, um dos destaques do atual elenco do Sport.


O pior é que sem um empresário, dificilmente um atleta chega ao profissional, talvez se tivesse um, A história de Rodrigo Correia, 21 anos, tomasse um rumo diferente, “Fui fazer um teste no Náutico e com 10 minutos de jogo já tinha marcado 2 gols e passado no teste, mas infelizmente fui dispensado do Naútico sem saber o motivo, talvez se tivesse um empresário acredito que hoje estaria no profissional do Náutico”, afirmou.
Mesmo sem clube e se recuperando de uma cirurgia no joelho Didigo, como é conhecido no bairro onde mora, em Caétes 1, Abreu e Lima, não perde as esperanças e acredita que ainda dá para se tornar jogador de futebol, “Quando me recuperar vou procurar um clube, tenho alguns contatos no Piauí e pretendo ir para  lá”, completou o garoto.


EUROPA
Ao viajar para outros países, principalmente os da Europa, destino preferido dos jogadores e dos empresários, o atleta só poderá atuar como profissional, quando completar a maior idade, enquanto isso ele fica treinando no clube, mas impossibilitado de jogar, foi o caso de Alexandre Pato quando se transferiu do Internacional para o Milan da Itália. Talvez essa não fosse a vontade dos clubes e nem dos jogadores, mas o alto salário oferecido pelo clube comprador e a alta quantia repassada pela transferência ao clube que o revelou antecipam a viagem dos jovens para fora do Brasil.



   

  • CT – Centro de Treinamento – Alguns clubes tem o seu centro de treinamento com campos de futebol para conservar o campo oficial de jogo. A maioria dos CT’s contam com alojamentos, salas de fisioterapia, academia de ginástica, refeitórios e outros recursos.
  • Pré-contrato – Documento assinado pelos jogadores com um clube antes de assinar o contrato oficial. Geralmente é emitido para jovens jogadores que estão subindo para o profissional ou a atletas que estão em negociação com o clube comprador.
  • Ajuda de custo – Valor repassado aos jogadores das categorias de base para ajudar no deslocamento aos treinos, alimentação e materiais esportivos.

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