Priorizar
as categorias de base é o melhor investimento, e com ótimo retorno
financeiro para um clube
Por Matheus Albino
Os
jovens atletas do futebol pernambucano estão vivendo uma ótima fase da
economia do País que está refletindo na situação financeira dos times.
Aqui em Pernambuco esse quadro ainda não foi o suficiente para turbinar e
aquecer a economia dos clubes, mas pelo menos vem criando boas
expectativas nas equipes e nos jogadores.
Em
outras épocas não era possível pagar um salário e nem assinar um
contrato com atletas da base. "O pré-contrato de hoje antes era chamado
de contrato de gaveta, regularizado na federação, antes eram só as
passagens pra ir treinar”, contou Ramón, ex-atacante do Santa Cruz e da Seleção Brasileira de Futebol.
Agora
os atletas das categorias de base recebem ajuda financeira, mas só
podem assinar contrato a partir dos 16 anos, antes são feitos contratos
de formação.
Alguns
atletas afirmam que os clubes nem sempre pagam essa ajuda no prazo
estabelecido. Marlon, ex- volante do Sete de Setembro, contou que um atraso
de salário causava um prejuízo ainda maior, “No Sete de Setembro o salário
atrasava e as viagens eram muito longas e cansativas, às vezes ia aos
treinos sem tomar café da manhã, mas é assim mesmo e quem quer chegar
longe tem que passar por dificuldades”, disse Marlon.
A melhor categoria de base de Pernambuco é o Naútico
O
futebol pernambucano ainda está longe de se igualar aos do Sul e
Sudeste do Brasil. Notória é a evolução das categorias de base em
termos de infraestrutura e filosofia de trabalho. O Clube Náutico
Capibaribe tem o Centro de Treinamento da Guabiraba (CT), no
Recife, considerado o melhor de Pernambuco. “Passei pelo Santa Cruz e pelo Naútico e hoje estou no Sport,
mas sem dúvidas nenhuma a melhor base é a do Náutico em termos de
estrutura e alojamento para os atletas”, afirmou Juninho, atleta da base
do Sport.
Para
os mais experientes o Náutico tem a melhor categoria de base porque
investiu na sua equipe. Ramón afirmou que o clube
alvirrubro foi o primeiro do estado a investir forte na base,
construindo um CT de alto padrão para o clube, mas que no futuro dará
retornos financeiros.
Um exemplo é o jovem Douglas Santos, recém
convocado para seleção brasileira e que já tinha disputado o
sul-americano sub-20, este ano, na Argentina. Douglas já estendeu o seu
contrato com o clube e a multa rescisória ultrapassa os 20 milhões de
reais. “Ele estava bem aqui no Náutico e mereceu ser convocado,
curiosamente o outro atleta da posição que foi ao sul-americano também
jogava em um time do nordeste, o Mansur, que é jogador do Vitória da
Bahia, algo difícil de acontecer na seleção brasileira. Uma experiência
na seleção é de fundamental importância na evolução do atleta”, afirmou
Sérgio China, técnico dos juniores do Naútico.
Os conselhos de quem já viveu essa fase de categorias de base
Ramón,
atual presidente do Sindicato dos Jogadores de Futebol de Pernambuco, é
um dos jogadores mais lembrados do futebol pernambucano. Artilheiro do Brasileiro de 1973 pelo Santa Cruz o ex-atacante
acredita que os jovens agora tem mais chances de se tornar
profissionais. “Acredito que hoje está mais fácil pra ser um jogador. Na
minha época não tinha Centro de Treinamento, Seleção sub-17, Copa do
Brasil e Brasileiro sub-20, e quem quisesse chegar a seleção tinha que
ralar muito. Hoje os garotos treinam em CT’s, chegam a seleção principal
porque passaram pelas seleções de base, então está mais fácil”, declarou.
Outro nome do futebol pernambucano é Sérgio China, atual técnico dos
juniores do Náutico. Ele falou que os campeonatos nacionais ajudam muito
na formação dos atletas. “O Náutico hoje está na primeira divisão e isso
tem um ponto positivo na base, pois assim podemos disputar o brasileiro
sub-20, somente com times da primeira divisão. A Confederação
Brasileira de Futebol (CBF) paga as despesas no local como a hospedagem.
O translado quem arca são os clubes, mas na Copa do Brasil sub-20 a CBF
pagou tudo às equipes que estavam inscritas na competição ”, afirmou
China.
O jogo sujo dos empresários e a guerra contra os clubes de futebol
A
geração do século 21 vem sendo marcada por transformações negativas e
positivas no mundo do futebol. Para os mais experientes alguns desses
jovens de hoje estão sendo privilegiados por empresários que só pensam
no dinheiro e não em uma carreira bem sucedida para os seus atletas.
“Hoje, os empresários colocam garotos que não tem tanta qualidade nos
melhores clubes, isso atrapalha a qualidade da base. Sou a favor do
procurador dos atletas, espécie de cargo que ajuda na assinatura de
contrato, propostas e cuida da carreira do jogador”, disse Ramón.
É
uma guerra entre empresários x clubes que começa antes mesmo da
profissionalização dos atletas. Conforme o Decreto nº 2.574/89, art. 47,
inciso 3º, é vedada aos menores, até a idade de 16 anos, exercerem a
prática esportiva profissional. A profissionalização do jogador pelo
clube é facultativa entre os 16 e os 18 anos, mas se torna obrigatória a
partir dos 18 anos de idade.
Outra
jogada suja no futebol é a dos que aparecem prometendo a eles uma
carreira de grande sucesso e de certeza de sonhos realizados, para os
que caem nessas falsas promessas ficam as dúvidas se a história
terminará com um final feliz. Rodrigo Thomaz, de 18 anos, é a prova viva
desse jogo. Quando atuava no Náutico, afirmou que recebeu uma proposta
tentadora de um empresário para se transferir à Espanha e se
profissionalizar por lá. “Depois que joguei um campeonato na Bahia, fui
para Espanha onde passei 2 meses na Catalunha treinando no Barcelona,
então fui para o Espanhol e joguei por mais 1 ano e meio. Decidir voltar
ao Brasil por questões pessoais, e hoje estou no América, disputando o
Pernambucano na categoria Junior”.
Nem
só de promessas falsas a jogadores vivem os empresários, há aqueles
mais audaciosos que chegam a clubes de menor expressão para prometerem o
impossível e iludir os mais experientes, foi o caso do técnico do
Paulista Futebol Clube, da cidade de Paulista, na região metropolitana
do Recife.
“Sou
técnico do Paulista Futebol Clube, vivo escutando promessas de
empresários e políticos que se comprometem a ajudar o clube, mas só
aparecem em épocas de eleições”, palavras de Puan, técnico do Paulista,
clube por onde passaram jogadores como Cleber Santana, Branquinho
ex-Santa Cruz e Erico Junior, o Pelezinho, um dos destaques do atual
elenco do Sport.
O
pior é que sem um empresário, dificilmente um atleta chega ao
profissional, talvez se tivesse um, A história de Rodrigo Correia, 21
anos, tomasse um rumo diferente, “Fui fazer um teste no Náutico e com 10
minutos de jogo já tinha marcado 2 gols e passado no teste, mas
infelizmente fui dispensado do Naútico sem saber o motivo, talvez se
tivesse um empresário acredito que hoje estaria no profissional do
Náutico”, afirmou.
Mesmo
sem clube e se recuperando de uma cirurgia no joelho Didigo, como é
conhecido no bairro onde mora, em Caétes 1, Abreu e Lima, não perde as
esperanças e acredita que ainda dá para se tornar jogador de futebol,
“Quando me recuperar vou procurar um clube, tenho alguns contatos no
Piauí e pretendo ir para lá”, completou o garoto.
EUROPA
Ao viajar para outros países,
principalmente os da Europa, destino preferido dos jogadores e dos
empresários, o atleta só poderá atuar como profissional, quando
completar a maior idade, enquanto isso ele fica treinando no clube, mas
impossibilitado de jogar, foi o caso de Alexandre Pato quando se
transferiu do Internacional para o Milan da Itália. Talvez essa não
fosse a vontade dos clubes e nem dos jogadores, mas o alto salário
oferecido pelo clube comprador e a alta quantia repassada pela
transferência ao clube que o revelou antecipam a viagem dos jovens para
fora do Brasil.
- CT – Centro de Treinamento – Alguns clubes tem o seu centro de treinamento com campos de futebol para conservar o campo oficial de jogo. A maioria dos CT’s contam com alojamentos, salas de fisioterapia, academia de ginástica, refeitórios e outros recursos.
- Pré-contrato – Documento assinado pelos jogadores com um clube antes de assinar o contrato oficial. Geralmente é emitido para jovens jogadores que estão subindo para o profissional ou a atletas que estão em negociação com o clube comprador.
- Ajuda de custo – Valor repassado aos jogadores das categorias de base para ajudar no deslocamento aos treinos, alimentação e materiais esportivos.
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